Seu corpo pesa sobre nós
Você pisa tão duro
Parece que quer esmagar todas as flores do caminho
Chutar pra longe todas as pedras
Olha, elas também fazem parte!
Só queremos ir mais devagar
Sair do piloto automático e sentir o chão todo
Do calcanhar à ponta dos dedos
Como e onde estamos pisando?
Precisamos saber!
Passamos o dia inteiro presos nessas meias grossas
As tramas do tecido nos amordaçam
nossa função é o movimento
Mas estamos imobilizados no tênis esportivo
É uma contradição!
Queremos respirar
Ser postos para cima
Nus
Completamente nus
Apenas sentindo os raios de sol
E o balançar da rede
Poder separar nossos dedos e movimentá-los
À vontade
Pra lá e pra cá.
Tanto tempo faz que não nos leva a passeio
Queremos sentir novamente a grama fofa e úmida do amanhecer.
Correr na areia quente e fofa até o mar
Aahhh o mar!
Flutuar no balanço das ondas
E nem lembrar da rigidez do asfalto
Da dureza das ruas e dos dias.
Joga logo fora todos esses sapatos que nos machucam!
Nem você aguenta mais usar o que não te serve.
E as viagens que nos prometeu?
Heim?
Já esqueceu como foi a andança pela Patagônia?
Trilhas tão diversas
Tão longas
E lindas.
E o resto da América do Sul?
E o mochilão pela Europa?
Mas o pior não é o marasmo apertado dos nossos dias,
Sabe?
É a ingratidão
Queremos que nos olhe
Nos respeite.
Reconheça que sobre nós não há queixas
Por que você só olha para aquilo que acha um problema?
Sinceramente,
Pé direito e Pé esquerdo.